O que secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo vem fazer no Brasil
Por Sérgio Ferreira
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, desembarca nesta sexta-feira (18) em Boa Vista, Roraima, em uma viagem estratégica para ambos os governos na narrativa contrária ao governo do ditador venezuelano, Nicolás Maduro. Na “bagagem”, a autoridade norte-americana trará acenos favoráveis ao bom relacionamento entre as nações — um ganho para o Brasil às vésperas da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Em troca, garantirá publicidade à narrativa eleitoral de Donald Trump na busca pela reeleição.
O objetivo político dos Estados Unidos é claro. Trump aparece atrás nas pesquisas eleitorais norte-americanas do adversário democrata, Joe Biden. A viagem de seu secretário de Estado ajuda, assim, a reforçar elementos para a disputa eleitoral. A situação na Venezuela é uma questão de preocupação para o governo americano. No Palácio do Planalto, a leitura é de que os EUA vão usar a visita para reforçar durante o pleito traços da atual política externa de Washington. O cálculo dos republicanos é que defesa pela democracia e o repúdio ao governo de Maduro podem ajudar a capitalizar votos.
Oficialmente, o comunicado de Washington dá sinais da politização com a visita de Pompeo. Em comunicado público, a Embaixada dos Estados Unidos informa que ele irá ressaltar a “importância do apoio dos EUA e do Brasil ao povo venezuelano” em seu “momento de necessidade”. “Visitando imigrantes venezuelanos que fogem do desastre provocado pelo homem na Venezuela”. A presença do secretário de Estado em território brasileiro, entretanto, será curta.
A previsão é que Pompeo permaneça em Boa Vista por cerca de três horas e meia. Ele visitará um centro de triagem para receber imigrantes venezuelanos, onde será recepcionado e se reunirá com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Após isso, ele viajará para Bogotá, onde se reunirá com o presidente colombiano Ivan Duque. Lá, entre os assuntos a serem debatidos, estará o enfrentamento das “ameaças à segurança regional de narcotraficantes, grupos terroristas e do regime ilegítimo de Maduro”.
O simbolismo da visita de Pompeo ao Brasil deve marcar novas investidas contra a economia venezuelana. Após os EUA terem reduzido as exportações de petróleo do país ao patamar mais baixo em décadas, novas sanções não são descartadas. A aproximação das eleições presidenciais, em novembro, motiva Trump a reforçar o posicionamento contra Maduro. E a visita ao Brasil, país que, igualmente, cortou relações com a Venezuela, ajuda a imagem do atual presidente norte-americano.
Entre EUA e Brasil, são esperados mais efeitos discursivos do que práticos em relação à Venezuela. O analista político Lucas Fernandes, especialista em relações governamentais e internacionais da BMJ Consultores Associados, não aposta em nenhuma ação de intervenção militar ou ação concreta no intuito de tentar tirar Maduro do poder com a visita de Pompeo. “Mas colocar um oficial de alta patente norte-americano na fronteira certamente será recebido por Maduro como uma grande provocação. É algo que vai ser amplamente publicizado por Trump e podemos esperar novos desdobramentos, porém, apenas efeitos discursivos”, pondera.
Ganhos brasileiros com a visita de Mike Pompeo
Os EUA não são os únicos a ganharem publicidade com a vinda de Pompeo. O Palácio do Planalto tem muito a se beneficiar. A começar pela exploração da imagem do governo norte-americano. Bolsonaro e os filhos, sobretudo o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), tradicionalmente associam sua imagem à de Trump, sempre sustentando um bom relacionamento entre as partes. Politicamente, é uma relação que gera frutos entre a base eleitoral mais “raiz” do bolsonarismo.
Não é esperado algum gesto de apoio à reeleição de Trump por parte do governo — embora seja bem recebido pelo eleitorado —, mas algo mais incisivo por parte de Eduardo não é descartado dentro do governo. De toda forma, a principal expectativa do governo com a vinda de Pompeo são os esperados acenos sobre a Amazônia. O Executivo vive um momento de muitos questionamentos sobre sua política ambiental. Alguma fala do secretário de Estado pró-Brasil seria muito bem recebida.
Um possível gesto do governo norte-americano sobre a política ambiental brasileira não é descartado por Fernandes. “A gente espera um aceno de apoio. Pompeo estará na Amazônia e acreditamos que ele fará pelo menos algum tipo de sinalização de fortalecimento à contranarrativa que Bolsonaro e [Hamilton] Mourão [vice-presidente] tentam aplicar, que estão protegendo uma parcela e preservando o bioma”, pondera. Para o especialista, uma declaração vindo de Washington traria apoio e publicidade relevante, principalmente levando em consideração que, na próxima terça-feira (22), Bolsonaro terá seu discurso gravado exibido na ONU.
A própria ofensiva contra Maduro também é algo que Bolsonaro deve explorar. É um ponto, entretanto, que gera bônus e ônus. Ataques a Maduro podem gerar um desconforto com o presidente da Argentina, Alberto Fernández. Após perder um pouco de popularidade durante a pandemia, o argentino tem substituído a roupagem de moderado pelo kirchnerismo. O enfrentamento à Venezuela, portanto, pode causar algum embate entre os governos brasileiro e argentino. “Mas nada que rompa o pragmatismo das relações”, analisa Fernandes.
Alinhamento contra o globalismo
A visita de Pompeo anima aliados do governo e pode alinhar melhor a política externa brasileira. É o que avalia o deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP), primeiro-vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (Creden) da Câmara. “Ainda estamos engatinhando. O que existia antes era um desalinhamento com os Estados Unidos, um anti-americanismo e um suposto anti-imperialismo americano”, analisa. “Partimos para uma vertente globalista não alinhada com os Estados Unidos meio que por ideologia, que ainda domina boa parte dos quadros do Itamaraty, infelizmente”, acrescenta.
O parlamentar entende que a vinda de Pompeo ajuda a reafirmar não apenas o alinhamento entre Brasil e Estados Unidos contra Venezuela, mas também a afinar parceria conjunta com a Guiana. Antes de Boa Vista, o secretário de Estado norte-americano desembarca em Georgetown, capital do país. “A Guiana está para se tornar um país per capita riquíssimo, de primeiro mundo, com royalties de petróleo que vão aumentar em 20 vezes o seu PIB [Produto Interno Bruto]. Mas com uma população desarmada vizinha da Venezuela”, alerta.
“A estratégia norte-americana é muito mais ágil do que a brasileira, os guianenses já fizeram parceria com os norte-americanos e eles já têm uma base na Guiana. Gostaria que fizéssemos o mesmo, mas ainda dependemos das nossas Forças Armadas”, critica.
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