Por Visual News Noticias / Sérgio Ferreira
O genoma do coronavírus isolado no segundo paciente brasileiro, que foi diagnosticado com a Covid-19 no último sábado, é diferente do encontrado no primeiro caso. Este é de cepa semelhante ao sequenciado na Inglaterra, ao contrário do primeiro — confirmado em 26 de fevereiro —, que tem proximidade com aqueles identificados na Alemanha. A afirmação é de Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo. Além dos problemas causados pela doença, autoridades tentam descontruir informações erradas sobre o novo coronavírus.
“Ambos são diferentes das sequências chinesas. Tal fato sugere que a epidemia de coronavírus está ficando madura na Europa. Ou seja, já está ocorrendo transmissão interna nos países europeus. Para uma análise mais precisa, porém, precisamos dos dados da Itália, que ainda não foram sequenciados”, explicou.
O sequenciamento completo do segundo vírus foi concluído em apenas 24 horas, por pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz e da USP. Isso porque, segundo a pesquisadora, as instituições estavam preparadas para dar respostas rapidamente.
Para Ester, a principal vantagem do monitoramento em tempo real de uma epidemia é a possibilidade de identificar de onde exatamente veio o vírus que chegou ao país. Tal informação pode orientar ações de contenção e ajudar a reduzir a disseminação da doença.
“A epidemia está há algum tempo na Europa e passa de um país a outro. Mas nesse momento ainda não conseguimos saber se ela foi da China para a Alemanha e a Inglaterra, e de lá para a Itália, ou se foi para a Itália e de lá foi para a Inglaterra”, por exemplo.
Ela explica que a cada mês que passa o vírus sofre uma mutação e fica com uma espécie de código da região por onde passou, mostrando o seu caminho.
“Ainda é arriscado inferir muita coisa com apenas dois genomas, mas o que podemos dizer é que os dois casos não tiveram a mesma fonte de contaminação. Isso é importante para os epidemiologistas rastrearem a dinâmica da doença”, explica Claudio Sacchi, do Instituto Adolfo Lutz, que coordena os trabalhos.
O pesquisador salienta que os próximos sequenciamentos não devem ser tão rápidos. Para analisar os dois com um tempo tão curto — o primeiro havia sido apresentado na sexta e no sábado os pesquisadores receberam a segunda amostra — ele conta que os cientistas quase não dormiram.
“Foi importante porque eram os primeiros e a gente mostrou que temos capacidade, mas a partir de agora o trabalho deve ser mais sereno. Até porque não precisa ser tão rápido assim”, explicou.
O trabalho faz parte do projeto Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (Cadde), apoiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Medical Research Centers, do Reino Unido.
Boataria preocupa
A disseminação de informações equivocadas e sem comprovação científica sobre o novo coronavírus preocupa especialistas. A onda de fake news relatando curas e ameaças inexistentes tem se espalhado exponencialmente pelas redes sociais. De acordo com o Ministério da Saúde, desde o início da divulgação dos casos da doença pelo mundo, foram recebidas 6.500 mensagens, das quais 90% eram relacionadas à Covid-19 e, dessas, 85% eram falsas.
A professora do Hospital Universitário de Brasília da UnB, Valéria Paes Lima, alertou para os perigos da desinformação. “O grande risco é de que as pessoas adotem medidas que não são comprovadamente eficazes, o que pode aumentar o risco. As pessoas se apegam a algo que não funciona e têm a falsa sensação de proteção e segurança, não aderindo ao que realmente funciona”, afirmou.
O Ministério da Saúde lançou o aplicativo Coronavírus–SUS para ajudar a população no trabalho de informação em relação ao coronavírus. Entre outras coisas, traz informativos sobre os sintomas, prevenção, o que fazer em caso de suspeita e um mapa indicando as unidades de saúde próximas. A ideia é que os usuários de internet evitem acessar e compartilhar informações falsas sobre a epidemia. Na China aconteceram prisões por causa da divulgação de fake news sobre o coronavírus. Além disso, existe um número de WhatsApp para receber informações, que serão analisadas pelos técnicos do governo federal.
O infectologista André Bon, do Hospital Brasília, destacou a importância de procurar fontes corretas. “É preciso sempre um contraponto, ou confirmação do Ministério da Saúde, que é quem tem as principais informações. A contestação da eficácia do álcool em gel, por exemplo, é absurda”, disse.
Segundo o novo balanço divulgado ontem, o Brasil tem 433 casos suspeitos do novo coronavírus. Apesar de o número ter quase dobrado desde o último boletim, o Ministério avaliou que o número está dentro da normalidade e reforçou que a situação está sob controle.
* Estagiária sob supervisão de Fabio Grecchi
Veja as principais 10 mentiras e 10 verdades sobre o novo coronavírus:
FALSO
1 - Beber água quente ou chás quentes matam o vírus
2 - Álcool gel não tem eficácia, mas vinagre tem
3 - Gargarejos são eficazes para combater o vírus nos primeiros dias, quando o coronavírus fica restrito à garganta
4 - O vírus é resistente em superfícies metálicas, onde pode ser manter vivo por até 12 horas
5 - China cancelou todos os embarques de produtos por navio até março
6- Médicos tailandeses curam coronavírus em 48 horas
7 - Existe semelhança do vírus HIV com o coronavírus
8 - Há medicamentos específicos eficazes contra o novo coronavírus
9 - Produtos enviados da China para o Brasil trazem o novo coronavírus
10 - Coronavírus veio de inseticida
VERDADEIRO
1 - Evitar contato próximo com pessoas que sofrem de infecções respiratórias agudas
2 - Realizar lavagem frequente de mãos
3 - Utilizar lenço descartável para higiene pessoal
4 - Cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir
5 - Evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca
6 - Higienizar as mãos após tossir ou espirrar
7 - Não compartilhar objetos de uso pessoal
8 - Mantes os ambientes bem ventilados
9 - Evitar contato próximo a pessoas que apresentem sinais ou sintomas da doença
10 - Evitar contato próximo com animais selvagens e animais doentes em fazendas ou criações
Fonte: Ministério da Saúde
Fiocruz distribui 30 mil testes
O Ministério da Saúde anunciou ontem que o Instituto Bio-Manguinhos e a Fundação Oswaldo Cruz farão a produção de 30 mil testes para diagnóstico do novo coronavírus. Inicialmente, 10 mil testes serão distribuídos a partir desta amanhã, por alguns estados. Na Região Norte, será pelo Amazonas, Pará e Roraima; no Nordeste, através da Bahia, Ceará, Pernambuco e Sergipe; No Sudeste, pelo Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais; No Centro-Oeste, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul; e, por fim, no Sul, nos três Estados, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Os treinamentos serão in loco a partir da chegada dos kits nos laboratórios. Segundo o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, os kits devem custar em torno de R$ 100, mas ainda não há como precisar todos os recursos necessários para essa operação.