Com saída de Onyx, Bolsonaro só terá militares como ministros palacianos
Com a mudança, o comandante do Executivo trabalhará no Palácio cercado por militares
Por Sérgio Ferreira 14/02/2020 - 08:28 hs
Por Visual News Noticias / Sérgio Ferreira
“Ficou totalmente militarizado o terceiro andar” (do Palácio do Planalto), disse, nesta quinta-feira (13/2), o presidente Jair Bolsonaro a um grupo de estudantes universitários de Limeira (SP), que recebeu no Palácio da Alvorada, ao explicar a “pequena reforma ministerial” promovida, conforme caracterizou.
Depois
de suspenses e negações, Bolsonaro confirmou, por meio das redes
sociais, as informações que já circulavam desde a quarta-feira: o atual
chefe do Estado-Maior do Exército, general Walter Braga Netto,
ex-interventor do Rio de Janeiro, assume a Casa Civil no lugar de Onyx
Lorenzoni, deslocado para o Ministério da Cidadania, cargo ocupado por
Osmar Terra, deputado federal licenciado do MDB, que retoma o mandato.
“Agradeço ao ministro Osmar Terra pelo trabalho e dedicação ao Brasil e
que terá continuidade na Câmara dos Deputados”, escreveu Bolsonaro. A
transmissão de cargos está prevista para a próxima terça-feira. Com as
mudanças, que vêm sendo feitas paulatinamente, a ala militar retoma
espaço no governo. “São quatro generais ministros agora. Nada contra os
civis. Tem civis excepcionais trabalhando”, disse, e citou os ministros
Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública), e Tarcísio Oliveira
(Infraestrutura), que tem formação militar, mas seguiu carreira como civil, como lembrou o presidente.
Os demais
ministros com assento no Planalto são o general da ativa Luiz Eduardo
Ramos (Secretaria de Governo), o general da reserva Augusto Heleno
(Gabinete de Segurança Institucional) e o major da reserva da Polícia
Militar Jorge Oliveira (Secretaria-Geral). Outro militar do governo, que
foi prestigiado esta semana, foi o vice-presidente, general Hamilton
Mourão. Ele assumiu a coordenação do Conselho Nacional da Amazônia
Legal, que saiu do escopo no Ministério do Meio Ambiente.
“Na
Defesa, temos um general (Fernando Azevedo). Antigamente, tivemos gente
do PT, PCdoB, e não tem cabimento isso. Cada área, a gente coloca um
ministro que entende do assunto, sem aquela jogada que vocês sabiam que
existia”, ressaltou o chefe do Executivo aos estudantes. “Sei que o
comandante do Exército perdeu um grande auxiliar, mas não faltam pessoas
brilhantes nas Forças Armadas, e ele certamente escolherá mais um
brilhante general de Exército para estar à frente do Estado-Maior.
Então, bem-vindo Braga Netto, muito obrigado por você ter aceito esse
convite. E, para você também, não deixa de ser mais um desafio, você sai
da parte bélica e vai para a burocracia.”
Segundo
Bolsonaro, a missão mais importante do general na Casa Civil será
coordenar os ministros. “Eu falo muito em se antecipar a problemas. Em
havendo qualquer coisa que possa não dar certo, que pode acontecer, que o
ministro, às vezes, tem algum problema, e ele está lá para ajudar e se
antecipar”, destacou.
Após o anúncio, os
ministros Lorenzoni e Terra se manifestaram. Lorenzoni, que viu a pasta
sofrer esvazimento paulatino, postou um vídeo nas redes sociais e disse
que “não importa o número da camiseta”, mas que “continuará cumprindo a
sua missão”. Terra, por sua vez, usou o Twitter: “Eu estarei onde for
mais importante para o governo e para o presidente Jair Bolsonaro. Sou
deputado no sexto mandato, com muito orgulho. Agradeço por ter ajudado o
Brasil e quero continuar ajudando onde estiver. Desejo sorte ao
companheiro Onyx Lorenzoni”, escreveu.
Palmares
Bolsonaro
afirmou que Sérgio Camargo voltará ao cargo na Fundação Palmares. Na
quarta-feira, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) derrubou uma liminar
da Justiça Federal e autorizou a nomeação dele para o órgão. Camargo
provocou reações ao defender a extinção do Dia da Consciência Negra e ao
dizer que a escravidão foi benéfica para os descendentes.
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Com
a decisão do STJ, que acatou um recurso da Advocacia-Geral da União
(AGU), Camargo pode, juridicamente, voltar ao cargo. O chefe do
Executivo foi perguntado se Regina Duarte apoia a decisão, mas não
respondeu. A atriz assumirá a Secretaria Especial de Cultura, à qual a
Palmares é vinculada. “Ele volta para lá. O que acontece com a Regina
Duarte? Com todos os ministros, eles podem indicar e eu tenho poder de
veto. Acontece com todo mundo. Eu acho que o garoto que foi liberado
ontem (nesta quinta-feira — 13/2) é uma excelente pessoa”, elogiou o
chefe do Executivo, na saída do Palácio da Alvorada.
Já
Camargo disse que Regina Duarte se “solidarizou” com os ataques
sofridos por ele. A assessoria da atriz se limitou a dizer que “decisão
judicial cumpre-se”.
Camargo foi nomeado, em 27
de novembro, para a Presidência da Fundação Palmares, criada com o
objetivo de defender e fomentar a cultura e as manifestações
afro-brasileiras. A escolha do nome, no entanto, gerou polêmica, uma vez
que ele costumava usar as redes sociais para fazer comentários
racistas.
Em 4 de dezembro, o juiz federal
substituto Emanuel José Matias Guerra, da 18ª Vara Federal de Sobral
(CE), suspendeu o ato afirmando que a nomeação “contraria frontalmente
os motivos determinantes para a criação” da Fundação Palmares e põe a
instituição “em sério risco”, mas a AGU apresentou um recurso no
Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5) para reverter a decisão.
Noivado longo
Bolsonaro
disse, nesta quinta-feira (13/2), que ainda não há previsão para Regina
Duarte assumir a Secretaria Especial de Cultura. Segundo ele, não tem
data marcada porque “ela está acertando a vida dela lá”. “Estamos
noivando, a coisa mais gostosa que tem é ficar noivo. Não tem
responsabilidade, é ou não é? Você não acorda com bafo de leão em casa
nem de um lado nem do outro.”
Agenda internacional
Na
live que transmitiu, no início da noite desta quinta-feira (13/2),
pelas redes sociais, Bolsonaro disse que, neste primeiro semestre,
pretende visitar a Polônia, a Hungria e a Itália, três países europeus,
com governos conservadores, considerados de extrema direita, com os
quais tenho alinhamento ideológico. Ele disse, ainda, que, neste sábado
(15/2), participará de mais um evento evangélico, na Praia do Flamengo,
no Rio de Janeiro. No sábado passado, ele esteve num evento evangélico
no Mané Garrincha. “Os evangélicos decidiram as eleições em 2018”, argumentou, na live.
Linha do tempo
Junho/2019
O
presidente Jair Bolsonaro tira do então ministro da Casa Civil, Onyx
Lorenzoni, a articulação com o Congresso e a repassa à Secretaria de
Governo. No mesmo mês, transfere a Secretaria de Assuntos Jurídicos
(SAJ), também da Casa Civil, para a Secretaria-Geral.
Janeiro/2020
O
então secretário executivo da Casa Civil, Vicente Santini, é exonerado
por Bolsonaro depois de ter usado um avião da Força Aérea Brasileira
(FAB) para viajar à Suíça e à Índia. Como Onyx Lorenzoni estava de
férias nos Estados Unidos, ele foi aos dois países na posição de
ministro em exercício. Horas depois da demissão, porém, Vicentini ganhou
um novo cargo, de assessor especial da Secretaria Especial de
Relacionamento Externo da Casa Civil. Diante da repercussão negativa,
Bolsonaro voltou a exonerar Santini. O presidente também decidiu
transferir o Programa de Parceria de Investimentos (PPI) da Casa Civil
para o Ministério da Economia.
Fevereiro/2020
Lorenzoni
tem conversa reservada com Bolsonaro, após antecipar o fim das férias e
retornar ao Brasil, em meio à crise na sua pasta. Ao deixar o Palácio
da Alvorada, o ministro descartou a saída da pasta: “Tive uma reunião de
trabalho com o presidente Bolsonaro, e as coisas continuam no seu curso
normal. Não conversamos sobre mudança na Casa Civil”. Ele ainda
garantiu que a crise estava contornada. Na última quarta-feira, depois
de uma reunião com Bolsonaro, negou a saída da Casa Civil para o
Ministério da Cidadania. “Ninguém afirmou isso”, limitou-se a comentar.
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