Por Visual News Noticias / Sérgio Ferreira
A possibilidade de Regina Duarte assumir a Secretaria Especial de Cultura foi recebida com otimismo por representantes da classe artística, após a grave crise que culminou na demissão do dramaturgo Roberto Alvim. A atriz desembarca nesta quarta-feira (22/1) em Brasília para conhecer a estrutura do órgão, antes de responder ao convite do presidente Jair Bolsonaro.
Embora ainda não tenha batido o martelo, ela afirmou, nas redes
sociais, estar “de corpo e alma com esse governo” e prometeu dar o
melhor de si para a causa do setor. A artista também disse que “as
relações precisam passar pelo noivado” para evitar o risco de “dar com
os burros n’água”.
Regina Duarte foi
convidada para substituir Alvim, exonerado do cargo na sexta-feira, após
a repercussão do vídeo que ele publicou, no qual parafraseava o
ideólogo nazista Joseph Goebbels. Caso aceite o convite de Bolsonaro,
ela terá a missão de pacificar a relação entre a Secretaria Especial de
Cultura — órgão abalado por seguidas crises — e a classe artística.
Nas postagens que fez nas redes sociais, a atriz da Rede Globo
indicou que deve aceitar o convite do presidente. “Tem horas que eu nem
acredito. Parece um sonho. Deixa eu curtir um pouquinho mais a alegria
de sentir que posso ser respeitada no meu amor pelo Brasil e pelo povo
brasileiro....?!”, escreveu a artista no Instagram. “Daqui a pouco, sei
que posso vir a ter que me blindar das redes sociais onde, talvez, quem
sabe? podem me atacar mais ainda em função do cargo (…). Vou ter muito
trabalho pela frente”, acrescentou, no post que é acompanhado da foto do
encontro, ocorrido na segunda-feira, no Rio de Janeiro, entre ela,
Bolsonaro e o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo
Ramos.
Em outro post, ela escreveu: “Tô de
corpo e alma com esse governo, vcs já sabem, apaixonada como sempre pelo
meu país, louca pra contribuir com a produção da alegria e felicidade
geral... me entrego ao que Deus e o destino reservam pra mim, muito
grata pela confiança de todos”. A mensagem foi acompanhada de uma
ilustração da artista norte-americana Carey Armstrong-Ellis e que é capa
do livro Miss Tutu’s Star, de Lesléa Newman. A imagem, que mostra uma
bailarina entre um gato e um rato, foi alterada por Regina Duarte, que
inseriu uma bandeira do Brasil.
As publicações
da artista receberam comentários elogiosos dos internautas, incluindo a
primeira-dama, Michelle Bolsonaro, os atores Ary Fontoura e Thiago
Rodrigues, o apresentador Márcio Garcia e as atrizes Beth Goulart e
Maitê Proença. “Dentro do cenário sinistro que tivemos até agora, vc é o
melhor dos mundos!! Torço por vc à frente da Cultura de nosso país. Vai
com tudo querida!”, escreveu Maitê Proença.
Perseguição
A
Secretaria Especial de Cultura é acusada, por representantes do setor,
de cometer atos de perseguição e de censura contra artistas e produções
culturais. “Eu me sinto desprotegido como produtor de cultura, diante da
violência com que se tem tratado a Cultura no país”, disse ao Correio o
cineasta Cacá Diegues. “Espero que a Regina Duarte aceite o convite e
faça um bom trabalho, principalmente com liberdade para os artistas. Não
a conheço bem, nem sua ideologia, não sou seu amigo, mas tenho certeza
de que ela é muito melhor do que o Alvim.”
Diegues
não quis falar em nome da classe artística, mas disse que, para seu
trabalho como cineasta, o mais importante é ter “liberdade e as
condições de produzir”. Ele também elogiou os projetos desenvolvidos
pela Empresa de Cinema e Audiovisual de São Paulo (SPcine), da
prefeitura da capital paulista. Entre as ações está o Circuito
Cineclubista, desenvolvido em 16 espaços da cidade, sempre com sessões
gratuitas seguidas de debate.
A
diretora-presidente da SPcine, a também cineasta Laís Bodansky, afirmou
que “o mais importante para o setor do audiovisual é a continuidade das
políticas públicas, já que se trata de uma das mais importantes ramos da
indústria brasileira e contribui fortemente para o Produto Interno
Bruto”. Segundo ela, “qualquer interrupção representa um verdadeiro
desmonte de conquistas de anos”.
Expectativa
O ator e
comediante da Rede Globo Welder Rodrigues, que iniciou a carreira em
Brasília como integrante do grupo Os Melhores do Mundo, destacou que
“pior do que está não dá para ficar”, referindo-se às sucessivas crises
na Cultura. “Espero que a Regina Duarte faça um bom trabalho,
principalmente porque sabe que os colegas dela não são vagabundos.
Espero que o governo deixe de ver o artista e a imprensa como inimigos”,
ressaltou
Já o produtor teatral Eduardo Barata, afirmou que, embora não concorde
com o perfil conservador da atriz, tem esperança de que ela faça um bom
trabalho. “A Regina Duarte é do nosso meio, tem 50 anos de carreira,
defende a liberdade de expressão e, no passado, participou da campanha
das Diretas Já e pela abertura política no país”, argumentou. “Espero
também que o governo compreenda a cultura não como um partido político,
mas como o petróleo do novo século, que representa, no país, 2,74% do
PIB e emprega, direta e indiretamente, 6 milhões de pessoas.”
CorreioBraziliense