Brasil vive incerteza para as próximas entregas de vacinas
Sem previsão de liberação de matéria-prima nas próximas semanas, Brasil fica refém do que o ministro Queiroga chamou de ''dificuldade sanitária'' mundial. Plano Nacional de Imunização prevê, contudo, a distribuição de 85 milhões de doses entre maio e junho em todo o país
Responsável pela disponibilização da maioria das doses
de vacina contra covid-19, 47,2 milhões, ao Ministério da Saúde até o
momento, o Instituto Butantan avisou que não tem previsão de entrega do
imunizante nas próximas semanas. O motivo é a falta do Ingrediente
Farmacêutico Ativo (IFA) para a produção das unidades. Pelo mesmo
motivo, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) — que entregou, até o momento,
34,3 milhões de doses ao Programa Nacional de Imunização (PNI) — também
precisará interromper a produção de vacinas ao menos por alguns dias
esta semana. A instituição afirma, contudo, que, a princípio, não haverá
impacto nas entregas. Em meio às incertezas da atual situação das duas
maiores fornecedoras de vacinas contra a doença que já matou 435.751
pessoas no país, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, declarou, ontem,
que a carência da matéria-prima é mundial e pediu tranquilidade para
superar o que chamou de “dificuldade sanitária”.
“É importante passar uma mensagem positiva para a
sociedade brasileira, e não essa cantilena de que está faltando,
faltando, faltando (IFA). O Brasil precisa de tranquilidade para
superarmos juntos essa dificuldade sanitária”, disse Queiroga, em
Botucatu, no interior paulista, onde participou do início de estudo que
pretende promover a vacinação em massa do município para avaliar a
eficácia do imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford, em
parceria com a AstraZeneca e a Fiocruz. “O Brasil está indo bem na
campanha de vacinação. Poderia ir melhor? Claro que sim, se tivéssemos
mais doses”, completou o ministro.
Na semana passada, porém, ao menos 75 cidades do estado
de São Paulo suspenderam a vacinação da segunda dose da CoronaVac por
não contar com estoques do imunizante. Até o momento, foram distribuídos
a unidades da Federação e municípios do país o total de 85,2 milhões de
vacinas contra a covid-19. Do montante, foram aplicados 52,7 milhões de
doses, sendo 35,7 milhões da primeira aplicação e 16,9 milhões da
segunda. Para Queiroga, o problema de recebimento dos insumos essenciais
para a produção de imunizantes no Brasil está no tipo de contrato.
“Estes contratos têm cláusulas que são um pouco porosas porque não há
comprometimento de prazos, justamente porque há uma carência de vacinas e
de IFA no mundo inteiro”, alegou.
Atualizado na última quarta-feira, o PNI prevê a
entrega de 5 milhões de doses da CoronaVac produzidas pelo Butantan em
maio e outros 6 milhões, em junho. Na sexta-feira, o instituto paulista
entregou 1,1 milhão de doses do imunizante, quantitativo que já
contempla o início do segundo contrato firmado com o Ministério da Saúde
para mais 54 milhões de vacinas — a primeira etapa do contrato era de
46 milhões de doses. As quantidades entregues este mês pelo Butantan
foram produzidas a partir de 3 mil litros de insumos recebidos em 19 de
abril. A matéria-prima passou pelo envase, rotulagem, embalagem e
inspeção de qualidade no complexo fabril do instituto localizado na
capital paulista.
Já a FioCruz declarou ter insumos suficientes para
manter a produção do imunizante Oxaford/AstraZeneca até aproximadamente
20 de maio, o que garante entregas de vacinas até a primeira semana de
junho. Na última quinta-feira, o Instituto de Tecnologia em
Imunobiológicos da instituição, o Bio-Manguinhos, anunciou, sem
especificar a quantidade, que está previsto o recebimento de uma nova
remessa do IFA, em 22 de maio, e outra carga da substância, em 29 de
maio.
A continuidade do Plano Nacional de Imunização conta
com entregas de 7.338.900 de doses de imunizantes vindos de fora do
Brasil neste mês — parte desse número já foi repassado. O primeiro lote
com 1 milhão de doses da vacina da Pfizer-BioNTech chegou no fim de
abril e foi destinado às capitais, devido à dificuldade de logística,
pois o armazenamento precisa ser feito em temperaturas muito baixas.
Mais dois lotes com 628.290 doses do imunizante, cada, foram entregues
em maio. Conforme o cronograma do governo federal, estão previstos mais
1.243.420 de doses da farmacêutica americana até o dia 31, e mais 12
milhões, em junho.
Outra remessa vem por meio do acordo Covax Facility. A
previsão do Ministério da Saúde para este mês é receber, ao todo, 3,9
milhões de doses produzidos pela AstraZeneca/Opas, na Coreia do Sul. Até
o momento, esta é a última remessa dessa origem com previsão de entrega
para o Brasil. Há ainda 842,4 mil doses oriundas da produção conjunta
da Covax com a Pfizer até o fim de maio. São números que aliviam, mas
sequer se aproximam da quantidade de entregas previstas para serem
recebidas pela produção em solo nacional. A expectativa é de que a
FioCruz entregue 20,590 milhões de doses até o fim deste mês e outros
34,2 milhões, em junho.
China
O Ministro da Saúde refutou que os problemas com o
recebimento do IFA sejam reflexo de problemas diplomáticos do Brasil com
a China. Queiroga afirmou que o país asiático tem sido um grande
parceiro para o Brasil e disse não ver nenhuma fissura nas relações
entre o governo brasileiro e o chinês. “O presidente (Jair Bolsonaro)
tem uma excelente relação não só com a China, mas com todas as nações
com quem o Brasil estabelece relações internacionais. A China integra um
bloco econômico importante que são os Brics. O Brasil faz parte, a
Rússia faz parte, e as relações são absolutamente normais”, argumentou,
ontem, durante a visita a Botucatu.
435 mil mortos por covid-19
O novo coronavírus provocou, até agora, 435.751 mortes
no Brasil. Em 24 horas, foram registrados 1.036 novos óbitos provocados
pela doença. As informações estão na atualização diária do Ministério da
Saúde, divulgada ontem, a partir dos dados enviados por secretarias
estaduais de saúde. A soma de pessoas infectadas desde o início da
pandemia chegou a 15.627.475, com mais 40.941 casos confirmados. Os
dados são, em geral, mais baixos aos domingos e às segundas-feiras, em
razão da menor quantidade de funcionários das equipes de saúde para
realizar a alimentação do sistema. O ranking de estados com mais mortes
pela covid-19 é liderado por São Paulo (104.219). Em seguida vêm Rio de
Janeiro (48.006), Minas Gerais (37.508), Rio Grande do Sul (26.685) e
Paraná (24.670). Já na parte de baixo da lista, com menos vidas perdidas
para a pandemia, estão Roraima (1.571), Acre (1.614), Amapá (1.615),
Tocantins (2.720) e Alagoas (4.493).